Disfagia pode estar relacionada a distúrbios na laringe e comprometer a respiração, a voz e a qualidade de vida
Sensação de alimento parado na garganta, engasgos com líquidos ou sólidos e até falta de ar ao comer não devem ser ignorados. Esses sintomas podem indicar disfagia, condição que afeta a capacidade de engolir de forma segura e eficiente. O alerta é da otorrinolaringologista e especialista em laringologia, Érica Campos, que destaca a importância de procurar avaliação médica quando esses sinais se tornam frequentes ou persistentes.
“A deglutição envolve um processo neuromuscular bastante complexo. Quando ocorre uma alteração nesse mecanismo, o paciente pode apresentar tosse após engolir, engasgos repetidos, sensação de alimento parado na garganta ou dor ao deglutir. Esses sinais não devem ser ignorados”, afirma a médica.
A disfagia é a dificuldade ou dor para engolir alimentos e líquidos. Em muitos casos, o paciente descreve a sensação de que o alimento “prende” na garganta ou no peito, ou que engole errado com frequência. A condição é dividida em dois tipos:
- Disfagia orofaríngea: ocorre logo no início da deglutição, com engasgos, tosse ou sufocamento.
- Disfagia esofágica: ocorre quando há sensação de que o alimento ou líquido está parado na base da garganta ou no peito, mesmo após já ter iniciado o ato de engolir.
As causas são variadas e envolvem desde alterações estruturais até doenças neurológicas. A condição é comum em idosos e em pessoas com doenças como Parkinson e Alzheimer — estudos estimam que 80% dos pacientes com Parkinson e dois terços dos com Alzheimer podem desenvolver disfagia. Tumores, doenças como o divertículo de Zenker, sequelas de AVC e até traumas ou cirurgias na região da cabeça e pescoço também estão entre os fatores de risco.
Além da tosse ou engasgos frequentes, Érica conta que outros sintomas podem estar associados e ser um sinal de alerta para buscar ajuda médica:
- Excesso de salivação;
- Dor ou sensação de obstrução ao engolir;
- Regurgitação;
- Azia frequente;
- Problemas na fala;
- Perda de peso sem causa aparente.
O diagnóstico é clínico, mas pode incluir exames como videoendoscopia da deglutição, nasofibrolaringoscopia, endoscopia digestiva alta ou manometria. O tratamento depende da causa, podendo envolver fonoaudiologia, medicação, dilatação ou cirurgia. Em alguns casos, a disfagia pode ser curada com ajustes no padrão alimentar e reabilitação.
“A boa notícia é que, quando identificada precocemente e tratada de forma adequada, a disfagia tem controle e, em muitos casos, cura. O mais importante é que o paciente não minimize os sintomas”, reforça Érica.
Algumas medidas simples podem ajudar a prevenir complicações durante o tratamento da disfagia, como preferir alimentos macios e bem cozidos, evitar alimentos secos ou de difícil mastigação, cortar os alimentos em pedaços pequenos, manter a postura ereta ao se alimentar e evitar deitar-se logo após comer.
Sobre Érica Campos
Referência em transição da voz, Érica Campos tem Fellowship em Laringologia e Otorrino Pediatria Avançada (UNICAMP), é Mestre em Neurolaringologia (UNICAMP) e tem formação complementar no Mount Sinai Hospital, em New York/USA, e no Massachusetts General Hospital & Harvard Medical School, em Massachusetts/USA. É Membro Titular da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial) e Full Member da IATVS (International Association of TransVoice Surgeons). Também atua como preceptora no Serviço de Laringologia do Hospital Universitário Prof. Edgard Santos (UFBA) e Hospital Otorrinos. Mais informações: https://www.instagram.com/dra.ericacampos/