A Rússia celebrou nesta sexta-feira (9) o 80º aniversário da vitória soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial com um desfile militar imponente na Praça Vermelha, em Moscou. A cerimônia, tradicionalmente usada como demonstração de poder militar, ganhou contornos ainda mais simbólicos neste ano, em meio ao prolongado conflito na Ucrânia e ao crescente isolamento russo perante o Ocidente.
Diante de tanques, mísseis intercontinentais e fileiras de tropas marchando sob um céu cinzento, o presidente Vladimir Putin assistiu ao evento ladeado por líderes de nações que têm fortalecido seus laços com o Kremlin. Entre os convidados de destaque estavam o presidente chinês, Xi Jinping — sinal claro da aproximação estratégica entre Moscou e Pequim —, além de Emomali Rakhmon (Tajiquistão), Denis Sassou Nguesso (República do Congo) e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, cuja presença chamou atenção no cenário internacional.
Este foi o maior desfile realizado desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, e também o que reuniu o maior número de chefes de Estado em Moscou nos últimos dez anos. O evento reforça a tentativa russa de reposicionar-se geopoliticamente em um mundo cada vez mais polarizado, onde a busca por novos parceiros e esferas de influência se tornou prioridade para o Kremlin.
Durante seu discurso, Putin exaltou o papel das Forças Armadas russas no atual conflito, associando o esforço militar na Ucrânia à memória da vitória soviética contra o nazismo. “Estamos orgulhosos de sua coragem e determinação, sua força espiritual que sempre nos trouxe a vitória”, afirmou o presidente, em uma mensagem claramente direcionada tanto ao público interno quanto aos aliados reunidos na capital russa.
O desfile também expôs a narrativa oficial do governo russo, que apresenta a guerra na Ucrânia como uma continuação do legado histórico de resistência e triunfo militar. Ao mesmo tempo, a presença de aliados estratégicos reforça o esforço diplomático de Moscou para construir um contrapeso ao eixo formado pelos Estados Unidos e seus parceiros europeus.
Para analistas políticos, o evento representa mais do que uma celebração histórica: é um instrumento de afirmação de poder, resistência à pressão internacional e fortalecimento de uma nova ordem geopolítica multipolar, na qual a Rússia busca protagonismo ao lado de potências emergentes e países do Sul Global.