Um episódio de desrespeito expôs o machismo nos bastidores do concurso e revelou algo ainda mais forte: a solidariedade entre mulheres
O que deveria ser apenas mais um dia de compromissos e fotos do Miss Universo, em Bangkok, na Tailândia, se transformou em um momento de indignação e união. Durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais do evento, o diretor executivo da organização, Nawat Itsaragrisil, humilhou publicamente a Miss México, Fátima Bosch, após ela não participar de uma sessão de fotos.
Na frente das demais candidatas, ele a chamou de “burra” e mandou que “calasse a boca”. O tom agressivo e desrespeitoso deixou o ar pesado e silenciou o salão — por alguns segundos, ninguém acreditava no que tinha acabado de ouvir.
Fátima, visivelmente abalada, deixou o local. Mas o que veio a seguir mostrou o verdadeiro significado de irmandade: outras candidatas levantaram-se e seguiram com ela, recusando-se a compactuar com o comportamento do organizador. A cena se espalhou pelas redes sociais e virou símbolo de resistência.
Sororidade em ação
Não foi apenas um protesto — foi um gesto de empatia. Sem precisar de palavras ensaiadas, as concorrentes transformaram a passarela em espaço de apoio e respeito. Em um ambiente historicamente marcado pela competição e pela cobrança estética, elas escolheram estar do mesmo lado: o lado da dignidade.
Nas redes sociais, milhares de mulheres se manifestaram. “Quando uma mulher é atacada, todas sentimos”, escreveu uma seguidora. Outra completou: “Ver aquelas candidatas caminhando juntas foi mais bonito do que qualquer desfile.”
Mais tarde, em entrevista, Fátima Bosch contou o que aconteceu nos bastidores e reforçou que se manteve firme, mesmo diante da humilhação.
“Não foi sobre uma foto, foi sobre respeito. Eu apenas pedi que me ouvissem. E, no lugar de diálogo, recebi gritos. Isso não é aceitável em nenhum espaço”, declarou.
O gesto de solidariedade das colegas deu a ela força para se posicionar e seguir adiante.
Um posicionamento necessário
A atual Miss Universo, Victoria Kjær Theilvig, também se pronunciou, demonstrando apoio irrestrito à mexicana.
“Respeito e ética são princípios inegociáveis. Nenhuma mulher deve ser silenciada ou humilhada — especialmente em um evento que se propõe a celebrar a força feminina”, disse.
O episódio evidencia uma discussão urgente: o machismo ainda persiste em espaços que dizem exaltar as mulheres. Mas, diante da violência, o que se viu foi a força da união — mulheres de diferentes países, idiomas e histórias caminhando juntas contra o desrespeito.
Naquele momento, a beleza deixou de estar nos vestidos ou nas faixas. Ela estava na coragem. E o mundo assistiu, ao vivo, ao que realmente significa ser Miss: ter voz, ter empatia e não se calar diante da injustiça.

