Presidente da Coopanest-Ba, o anestesiologista Hugo Dantas esclarece a decisão e reforça a necessidade de práticas responsáveis e regulamentadas
O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou, no fim de julho, uma resolução que proíbe o uso de anestesia geral, sedação ou bloqueios anestésicos periféricos em tatuagens com finalidade exclusivamente estética. A decisão tem como base a ausência de respaldo científico para esse tipo de prática, além dos riscos associados à sedação em ambientes sem estrutura médica adequada. A norma, no entanto, mantém a autorização para tatuagens reparadoras com indicação clínica, como a reconstrução da aréola mamária em pacientes que passaram por mastectomia.
Para o médico anestesiologista Hugo Dantas, presidente da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas da Bahia (Coopanest-Ba), a medida levanta debates importantes. “Não se trata de inviabilizar completamente o uso de anestesia em procedimentos estéticos. Mas sim de avançar para uma regulamentação que permita essa prática com segurança e critérios claros”, afirma.
A resolução surge em meio à popularização de sessões de tatuagem com sedação prolongada, especialmente entre celebridades. MC Daniel, Rafaella Santos, Jesus Luz e Igor Kannário estão entre os famosos que realizaram tatuagens extensas sob efeito de anestesia com acompanhamento médico. Embora pontuais, esses casos reacenderam a discussão sobre os limites éticos e técnicos da sedação em ambientes fora do hospital.
De acordo com Hugo, o problema não está necessariamente no uso da anestesia, mas em sua aplicação sem os protocolos adequados. “É possível realizar sedação consciente com segurança, desde que o procedimento ocorra em ambiente clínico, com a presença de um anestesiologista para monitorar os sinais vitais do paciente durante todo o procedimento”, explica.
A estrutura mínima para esse tipo de anestesia inclui equipe completa, recursos para emergência e avaliação prévia do estado clínico do paciente. Sem isso, o risco de complicações como broncoaspiração, e outras reações adversas aumenta significativamente.
Apesar da proibição, a resolução do CFM permite o uso de anestesia em tatuagens reparadoras com indicação médica, como a pigmentação da aréola mamária em mulheres que passaram por tratamento contra o câncer de mama. Esse tipo de procedimento é reconhecido por seu impacto positivo na autoestima e na saúde emocional das pacientes. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres no Brasil, com estimativa de 73.610 novos casos por ano entre 2023 e 2025. Já a dermopigmentação da aréola é considerada uma técnica de baixa morbidade e grande importância simbólica no processo de reconstrução após a mastectomia.
“É importante separar os contextos. A sedação não deve ser usada indiscriminadamente, mas isso não significa que ela não possa ser utilizada com responsabilidade e segurança. O que precisamos é de uma regulamentação técnica”, reforça Hugo.
Enquanto a resolução estiver em vigor, procedimentos estéticos com sedação devem ser evitados, mesmo com consentimento do paciente. O uso de anestésicos tópicos, como pomadas e cremes aplicados diretamente na pele, continua permitido, desde que dentro dos limites seguros de dosagem.
Hugo Dantas destaca que a consulta com o anestesiologista é uma etapa fundamental antes de qualquer procedimento com sedação. É nesse momento que o profissional avalia o histórico médico, o estado clínico e define, junto à equipe, a melhor conduta para garantir a segurança do paciente.
“A anestesia, quando aplicada de forma criteriosa, é segura e eficaz. O que não pode acontecer é o improviso. O debate precisa caminhar para a regulamentação, com foco na segurança, na responsabilidade médica e na proteção da vida”, conclui.
Coopanest-Ba
A Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas da Bahia foi fundada em 2 de julho de 1985, inicialmente sob o nome COPAS – Cooperativa dos Anestesiologistas de Salvador. Em 5 de agosto de 1991, com a ampliação de sua atuação para além da capital, passou a se chamar COOPANEST-BA, congregando anestesiologistas de todo o estado. Ao longo de quatro décadas, a cooperativa permanece firme na defesa dos interesses de seus cooperados, oferecendo serviços de excelência reconhecidos nacionalmente, investindo em tecnologia e promovendo iniciativas que fortalecem a anestesiologia na Bahia. Mais informações: https://www.coopanestba.com.br/