Pesquisador buscava divulgar Teoria da Relatividade, recém comprovada
Há exatos 100 anos, o ícone da ciência Albert Einstein desembarcava no Rio de Janeiro para a sua primeira e única temporada no Brasil.
“Chegada ao Rio ao pôr do sol, com clima esplêndido. Em primeiro plano, ilhas de granito de formato fantástico. A umidade produz um efeito misterioso”, escreveu ele em seu diário de viagem, naquele dia 4 de maio de 1925.
Einstein já havia pisado em solo brasileiro no dia 21 de março, por algumas horas, durante a parada do navio que o levava a Buenos Aires, na Argentina. Mas a breve temporada brasileira foi reservada para o final da sua incursão de um mês e meio pela América do Sul, que incluiu também uma passagem por Montevideo, no Uruguai.
O objetivo da viagem era divulgar e discutir a recém verificada Teoria da Relatividade com estudiosos sul-americanos, mas também fazer conexões com as comunidades judaicas e alemãs, em meio à escalada de poder do Partido Nazista. Uma evidência disso é que a viagem foi organizada e financiada por organizações judaicas, com o apoio de instituições científicas.
Einstein passou sete dias no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e, além de se encontrar com seus compatriotas, visitou instituições como a Fundação Oswaldo Cruz, o Museu Nacional e o Observatório Nacional, e fez duas grandes palestras públicas, uma na Academia Brasileira de Ciências e outra no Clube de Engenharia. A maior contribuição da visita para a ciência brasileira, na opinião do professor do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), Alfredo Tolmasquim, foi o incentivo para as chamadas “ciências puras”, que ainda engatinhavam no país.
“O Brasil teve uma influência positivista muito grande no Século 19, e essa corrente defendia que o importante é utilizar a ciência para a melhoria da sociedade, e não fazer pesquisas que eles consideravam como um proselitismo inútil. Então, o início do Século 20 é o período em que justamente começa a vir o movimento que eles chamavam de “ciência pura”, que eram as pesquisas em ciência básica. Pra gente ter uma ideia, nessa época, a única universidade que a gente tinha era uma junção das escolas de engenharia, medicina e direito”, explica o professor do Mast.
“A gente não pode dizer que uma visita de uma semana do Einstein foi capaz de mudar a realidade brasileira. Não foi. Já era algo que estava acontecendo, mas ele contribuiu para esse debate”, complementa Tolmasquim que, em 2011, lançou a obra Einstein: o viajante da relatividade na América do Sul, com a tradução dos diários escritos por Einstein durante a viagem, e a contextualização sobre o cenário científico do Brasil na época.
Essa “lacuna” de pesquisadores avançados nas ciências básicas teve um resultado curioso: Einstein acabou mais interessado por assuntos alheios à física, como peças de história natural exibidas no Museu Nacional, e o trabalho do psiquiatra Juliano Moreira, que revolucionou o atendimento aos “alienados mentais” e combateu ferozmente a tese de que a mestiçagem poderia resultar em desequilíbrio mental, e outras teorias racistas. À convite de Moreira, Einstein visitou o então manicômio que o médico dirigia e conheceu as oficinas terapêuticas que ele implementou.
O ilustre visitante também se entusiasmou com as iniciativas para popularizar a ciência no país, como a criação da Rádio Sociedade, em 1922, atual Rádio MEC, e chegou a fazer um discurso, transmitido ao vivo, em que disse que sua visita à emissora o levou “a admirar novamente os esplêndidos resultados conquistados pela ciência aliada à tecnologia, resultando na transmissão dos melhores frutos da civilização para aqueles que vivem em isolamento.”