Arquiteta Camila Maia destaca como peças de devoção podem ganhar espaço nos ambientes de forma elegante, respeitosa e integrada ao projeto decorativo
Mais do que elementos decorativos, símbolos religiosos carregam histórias, afetos e lembranças que atravessam gerações. Quando entram em cena dentro da arquitetura, não apenas compõem a estética de um espaço, mas também traduzem a espiritualidade e a identidade de quem habita a casa.
A arquiteta Camila Maia, participante da CASACOR Bahia 2025, lembra que a inserção desses objetos exige sensibilidade. “É preciso ter cuidado para que eles não se tornem acessórios banais. O sagrado merece ser tratado com respeito”, afirma. Referência em design autoral, Camila explica que a chave está no equilíbrio entre estética e espiritualidade. “Itens ligados à fé carregam significados profundos, por isso devem ser inseridos de forma respeitosa, com atenção à escala, ao contexto e ao valor emocional que têm para o morador”, explica.
Segundo Camila, um erro comum é a banalização dos objetos sagrados, seja pelo excesso de elementos, seja pela escolha de peças sem relação com a vivência real do cliente. “Quando se misturam muitos símbolos sem critério, o espaço perde a clareza e pode gerar desconforto. É essencial ouvir o cliente, compreender a tradição de fé que ele carrega e traduzir isso em um ambiente coerente, que seja bonito e, ao mesmo tempo, reverente”, explica.
Outro ponto importante é o diálogo entre os objetos e o espaço ao redor. Para a arquiteta, pequenas escolhas podem trazer grandes resultados. “Uma imagem religiosa bem posicionada, uma iluminação suave que valorize um crucifixo antigo, ou até um móvel desenhado para acolher um acervo de devoção familiar são exemplos de soluções que unem estética e espiritualidade”, exemplifica.
Camila reforça ainda que cada projeto é único, já que a espiritualidade faz parte da identidade de cada pessoa. “Não se trata de uma tendência decorativa, mas de respeitar aquilo que é sagrado para quem habita o espaço. Quando conseguimos traduzir isso em forma e função, criamos um ambiente que acolhe e fortalece vínculos”, afirma.
Na CASACOR Bahia 2025, aberta à visitação até o dia 7 de setembro, no Convento das Mercês, Camila Maia apresenta ao público o Living Conclave, um espaço dedicado ao recolhimento e à escuta interior. Inspirado no processo de escolha do Papa, o ambiente presta homenagem ao Padre Luís Simões e conta com peças de valor histórico e espiritual, como uma Bíblia do século XVII, fotografias com o Papa João Paulo II e a bata do sacerdote, que será nomeado cônego no dia 6 de agosto.
Para a arquiteta, a mostra é também uma oportunidade de levar a reflexão ao público. “Assim como na vida pessoal, trazer o sagrado para dentro da arquitetura é um convite à pausa, à contemplação e ao equilíbrio. Cada detalhe pode reforçar a conexão com o essencial”, conclui.
Foto: Renata Marques