Na nova rodada de tarifas comerciais. Decisão é atribuída à postura geopolítica brasileira e à crise envolvendo o julgamento de Jair Bolsonaro.
A relação diplomática entre Brasil e Estados Unidos vive um novo capítulo de tensão. O presidente norte-americano Donald Trump anunciou um tarifaço que eleva para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros exportados aos EUA, a partir de 1º de agosto. A medida coloca o Brasil como o país mais onerado na atual política tarifária americana e foi comunicada diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em tom de pressão política.
Segundo Trump, a decisão é motivada por dois fatores: o posicionamento do Brasil no Brics, defendendo abertamente o multilateralismo e uma nova governança global — algo que contraria a visão unipolar americana; e, principalmente, o andamento do processo judicial contra Jair Bolsonaro, ex-aliado político de Trump, investigado por tentativa de golpe de Estado em 2022. Em uma publicação recente, Trump classificou o processo como uma “caça às bruxas” e pediu que o Supremo Tribunal Federal “deixe Bolsonaro em paz”.
Nos bastidores, a medida foi recebida com forte indignação por parte do governo brasileiro, que prometeu retaliação com base na Lei de Reciprocidade Econômica. O Itamaraty já estuda contramedidas comerciais e diplomáticas.
Na esfera política interna, o episódio gerou tumulto. A sessão da Câmara dos Deputados foi marcada por trocas de acusações. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) responsabilizou diretamente o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes pela crise, inflamando o plenário. A base governista reagiu com veemência. Já Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, afirmou que atuou pessoalmente junto ao governo americano e que Trump entendeu a atuação de Moraes como parte de um “establishment autoritário”.
Essa nova investida de Trump marca uma ruptura simbólica com a tradição histórica de cooperação comercial e diplomática entre Brasil e Estados Unidos. Embora governos anteriores já tenham enfrentado divergências, a ligação ideológica entre Trump e Bolsonaro somada à radicalização da política externa americana neste novo mandato colocam o Brasil numa posição desconfortável, sobretudo diante de seus esforços para manter uma diplomacia multilateral e uma agenda externa soberana.
Especialistas apontam que, se mantido, o tarifaço poderá impactar setores importantes da economia brasileira, como o agronegócio, a indústria de base e exportações de bens de consumo. A posição do Brasil no cenário internacional, especialmente junto ao Brics, G20 e Mercosul, também pode sofrer ajustes a partir desse novo cenário.