Por Redação Fato Bahia
O Brasil volta a registrar casos de intoxicação por metanol, uma substância altamente tóxica usada em combustíveis e solventes industriais. Mas, para muitos baianos, essa notícia traz à tona um passado doloroso: o estado foi palco de uma das maiores tragédias já provocadas por bebidas adulteradas no país. Os últimos acontecimentos acendem um alerta.
Na semana passada, em Serrinha, o alerta veio de uma funerária
Sete anos depois, o perigo voltou a aparecer — dessa vez, em Serrinha. O dono de uma funerária percebeu algo estranho: em apenas uma semana, vendeu 11 caixões para famílias de vítimas que haviam consumido uma cachaça artesanal chamada “Pé No Pote”.
A denúncia levou a Vigilância Sanitária municipal a investigar o caso. Os exames laboratoriais confirmaram a presença de metanol, e mais de 2 mil litros da bebida foram apreendidos em bares e depósitos.
Santo Amaro, 1990: quando o drama ganhou rosto e número
Tudo começou em 1990, no município de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano. O consumo de bebidas contaminadas com metanol resultou em 16 mortes confirmadas e 60 pessoas intoxicadas, segundo dados da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab).
O episódio chocou a cidade. Muitas vítimas ficaram com sequelas permanentes, como cegueira e surdez. Em resposta, a prefeitura chegou a proibir temporariamente a venda de bebidas alcoólicas, enquanto as investigações apontavam para uma fábrica clandestina como origem da contaminação.
Em 1999: 500 vezes mais metanol que o permitido
O ano de 1999 marcaria o auge da crise. Em cidades como Serrinha, Nova Canaã, Dário Meira e Iguaí, 36 pessoas morreram e ao menos 300 foram intoxicadas após consumirem cachaça adulterada.
As análises apontaram uma concentração de metanol 500 vezes superior ao álcool etílico. As vítimas apresentavam sintomas graves — cegueira, tontura, pressão alta e fortes dores de cabeça.
As investigações revelaram a existência de fábricas clandestinas, incluindo uma em Iguaí, onde a cachaça era produzida em tonéis plásticos que antes armazenavam o próprio metanol. A repercussão foi nacional. Três pessoas foram presas e várias barracas e mercados foram interditados.
A população precisa ficar atenta aos sintomas de intoxicação
Mais de vinte anos depois, os casos recentes em outras regiões do país mostram que o risco ainda é real. O metanol não tem cheiro nem gosto perceptível, o que torna quase impossível detectar sua presença em bebidas artesanais.
A história da Bahia serve como alerta e lição: por trás de uma garrafa aparentemente inofensiva, pode estar um veneno fatal. E o preço do descuido pode ser a vida.
Principais sintomas (podem surgir entre 12 e 24 horas após ingestão):
- dor abdominal;
- visão alterada;
- confusão mental;
- e náusea.
- a manutenção dos sintomas de embriaguez de 6 a 72h após o início dos sintomas caracteriza suspeita de intoxicação por metanol.
Esses sinais podem ser confundidos com os de uma ressaca comum. Por isso, ao identificá-los, a pessoa deve procurar imediatamente atendimento médico em uma unidade de emergência.
Na chegada ao serviço de saúde, é essencial informar:
- que houve consumo de bebida alcoólica;
- o contexto (por exemplo, festa, bar, evento);
- o tipo de bebida ingerida;
- a presença ou não de rótulo na embalagem;
- o horário aproximado da ingestão.
Essas informações ajudam na investigação, no diagnóstico e no tratamento adequados.
Em caso de dúvida, busque atendimento no sistema de saúde mais próximo.